Habronemose cutânea (esponja ou feridas de verão)
A habronemose cutânea é causada
por um parasita que acomete equídeos (equinos, asininos e muares),
principalmente no verão e na primavera, e tem como agente etiológico o Habronema muscae, Habronema majus e
Draschia megastoma. Esta afecção é resultado de uma reação
de hipersensibilidade às larvas na pele, como ocorre em alguns tipos de
alergias.
Foto 1 - Imagem ampliada
do Habronema muscae
A
habronemose cutânea pode ocorrer em equídeos de qualquer sexo ou idade, embora,
em machos, o pênis e prepúcio sejam locais frequentemente acometidos. Antes de
falar sobre os sinais clínicos e tratamento, é importante conhecer o ciclo do
parasita para que se possam adotar medidas preventivas.
Os adultos normalmente vivem no estômago dos equinos,
a partir de um ciclo indireto, onde todas essas espécies usam moscas como
hospedeiros intermediários. As larvas são eliminadas nas fezes e ingeridas por
moscas Musca domestica (mosca
doméstica) e Stomoxys calcitrans (mosca-do-estábulo),
que depositam as larvas na pele. Os cavalos podem adquirir a infecção gástrica
pela ingestão de moscas mortas, no alimento ou na água. As larvas são
depositadas perto da boca, deglutidas e completam o ciclo no estômago; ou,
ainda, são depositadas no focinho e migram para os pulmões ou permanecem na
pele, causando reação inflamatória e alérgica. Ainda, se as larvas forem
depositadas na cavidade ocular, pode-se desenvolver a habronemose conjuntival. A
habronemose cutânea se desenvolve quando a mosca pousa em uma ferida aberta ou
áreas cronicamente úmidas.
A
habronemose cutânea dificilmente leva à morte, mas frequentemente causa
prejuízos estéticos nos animais, gerando depreciação econômica.
Foto 2 - Aspecto da habronemose cutânea na região da face (próximo ao olho).
A lesão começa como pequenas pápulas com
centro erodido. O desenvolvimento é rápido e as lesões podem atingir 30 cm de diâmetro em poucos
meses, em função do tecido de granulação formado pela irritação constante, este
de aspecto esponjoso (daí o nome popular), róseo e sangra facilmente. No início,
pode haver prurido intenso e isso pode levar ao auto-traumatismo.
O diagnóstico é feito
através do histórico da presença de moscas, feridas não tratadas, programa de
desverminação desatualizado; do aspecto da lesão, que pode ser confundida
principalmente com sarcóide, pitiose ou tecido de granulação exuberante. Para
confirmar o diagnóstico, a biópsia é o exame mais indicado, embora também
possam ser feitos raspados de pele.
O que chama a atenção é que a habronemose cutânea não responde aos tratamentos
convencionais de feridas.
O tratamento se baseia na associação de agentes sistêmicos e
locais, pois uma terapia isolada geralmente não é eficaz contra a habronemose. O objetivo do
tratamento é matar as larvas presentes no estômago, enquanto controla-se a
inflamação resultante da sua deposição errática na pele, já que não faz parte
do seu ciclo de vida a migração para este local. As larvas na pele não
sobrevivem, por isso causam irritação, desta forma, não é necessário utilizar
produtos larvicidas no local da ferida.
Para combater o ciclo do Habronema spp. deve-se vermifugar o animal com bases capazes de
atuar contra esse gênero de helminto, como a ivermectina, abamectina,
moxidectina e o triclorfon. A terapia tópica com fármacos antimicrobianos e
antiinflamatórios, debridantes, penetrantes e protetores, podem ser aplicados
diariamente, sob a proteção de bandagens. Manter a ferida coberta é importante
para evitar infecções secundárias, traumatismos e reinfestações.
A cirurgia, com a excisão completa do tecido de
granulação, pode ser necessária, quando o tamanho da ferida é incompatível com
o tratamento somente com produtos químicos.
O controle é fundamental para
afastar a habronemose da propriedade. Algumas medidas importantes incluem a
remoção e destinação adequada das fezes para esterqueiras ou locais que
dificultem as moscas de encontrarem animais onde possam depositar as larvas e,
principalmente, removendo a matéria orgânica com a qual se alimentam e completam
seu ciclo de vida; administração de anti-helmínticos periódicos e, de
preferência, em massa, para que haja um controle e erradicação do ciclo
gástrico; utilização de armadilhas mosquicidas, impedindo a atuação do vetor; e
tratamento adequado de ferimentos e escoriações, mantendo sempre limpos e
protegidos.
Agradecemos a Priscila F. R. Lopes (Médica Veterinária) e Alexandre Breder (integrante do blog) que montaram essa matéria.
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