Raiva como zoonose
A raiva é uma doença
provocada por um RNA vírus da família Rhabdoviridae e gênero Lyssavirus ,
caracterizada por sintomatologia nervosa que acomete animais e seres
humanos, e transmitida pelo cão, gato, rato, bovinos, eqüinos, suínos,
macaco, morcego e animais silvestres, através da mordedura ou lambedura
da mucosa ou pele lesionada por animais raivosos. Os animais silvestres
são reservatório primário para a raiva na maior parte do mundo, mas os
animais domésticos de estimação são as principais fontes de transmissão
da raiva para os seres humanos.
O homem recebe o
vírus da raiva através do contato com a saliva do animal enfermo. Isto
quer dizer que, para ser inoculado, não precisa necessariamente ser
mordido – basta que um corte, ferida, arranhão profundo ou queimadura em
sua pele entrem em contato com a saliva do raivoso. Independente da
forma de penetração, o vírus dirige-se sempre para o sistema nervoso
central. O período de incubação (tempo decorrido entre a exposição ao
vírus até a manifestação dos primeiros sintomas), porém, varia com a
natureza do vírus, o local da inoculação e a quantidade inoculada. Se o
ponto de contágio tiver sido a cabeça, o pescoço ou os membros
superiores, o período de incubação será mais breve, porque o vírus
atingirá a região central com maior rapidez. A partir daí, o vírus migra
para os tecidos, mas, sobretudo para as glândulas salivares, de onde é
excretado juntamente com a saliva. Tanto no homem como nos animais,
quando os sinais da moléstia se manifestam já não há mais cura possível –
a mortalidade chega perto de 100%. Assim, todo tratamento tem que ser
feito durante o período de incubação, quando o paciente não apresenta
sinais e não manifesta queixas.
No homem, o primeiro
sintoma é uma febre pouco intensa (38 graus centígrados), acompanhada de
dor de cabeça e depressão nervosa. Em seguida, a temperatura torna-se
mais elevada, atingindo 40 a 42 graus. Logo a vítima começa a ficar
inquieta e agitada, sofre espasmos dolorosos na laringe e faringe e
passa a respirar e engolir com dificuldade. Os espasmos estendem-se
depois aos músculos do tronco e das extremidades dos membros, de forma
intermitente e acompanhados de tremores generalizados, taquicardia,
parada de respiração.
Qualquer tipo de
excitação pode provocá-los (luminosa, sonora, aérea, etc.). O homem, ao
contrário do cão, torna-se hidrófobo (sofre espasmos violentos quando vê
ou tenta beber água). Freqüentemente experimenta ataques de terror e
depressão nervosa, apresentando tendência à vociferação, à gritaria e à
agressividade, com acessos de fúria, alucinações visuais e auditivas,
baba e delírio. Esse período de extrema excitação dura cerca de três
dias, vindo a seguir a fase de paralisia, mais rápida e menos comum nos
homens do que nos animais. É então que se nota paralisia flácida da
face, da língua, dos músculos da deglutição, dos oculares e das
extremidades dos membros. Mais tarde, a condição pode atingir todo o
corpo. Às vezes, a moléstia pode manifestar evolução diferente: surge
com a paralisia progressiva das extremidades e logo se generaliza. Mas,
seja qual for o tipo, a raiva sempre apresenta uma evolução fatal para o
paciente.
O vírus da raiva é
inativado por pH < 4 e pH > 10, agentes oxidantes, solventes
orgânicos, detergentes enzimas proteolíticas, raio X e radiação
ultravioleta. O controle e profilaxia visam vacinar os animais de
estimação a partir de três meses de idade e depois anualmente; vacinar
os bovinos em locais endêmicos; controle e manejo de populações de cães
de rua; controlar os transmissores (morcegos), evitando o contato direto
com os mesmos. Caso seja detectada a presença de morcegos em alguma
região, deve-se: procurar iluminar áreas externas nas residências;
colocar telas nos vãos, janelas e buracos e fechar ou vedar porões,
pisos falsos e cômodos pouco utilizados que permitam o alojamento de
colônias. O animal suspeito de raiva deve ser isolado e mantido sob
observação, ou sofrer eutanásia para ser realizado um exame do cérebro e
tronco cerebral em busca do vírus. Se houve exposição humana ou animal a
outro animal com sinais clínicos sugestivos de raiva, deverá ocorrer
inoculação em camundongos para verificar a presença do vírus, isto
quando o exame cerebral der negativo.
Raiva urbana
A raiva urbana é
veiculada principalmente por cães e gatos infectados, sendo os cães os
principais agentes da raiva humana no Brasil. A transmissão ocorre
quando o vírus da raiva existente na saliva do animal infectado penetra
no organismo, através da pele ou mucosas, por mordedura, arranhadura ou
lambedura, mesmo não existindo necessariamente agressão. A raiva pode
apresentar vários sinais clínicos nestes animais, tornando-se difícil
diferenciar de outras síndromes nervosas agudas progressivas. Os sinais
da raiva furiosa podem incluir alterações de comportamento, de
depressão, demência ou agressão, dilatação da pupila, fotofobia (medo do
claro), incordenação muscular, mordidas no ar, salivação excessiva,
dificuldade para engolir devido à paralisia da mandíbula, falência
múltipla de nervos cranianos, ataxia e peresia dos membros posteriores
progredindo para paralisia. Neste estágio o animal pára de comer e
beber. O estágio da raiva paralítica pode durar de um a dois dias,
seguido de morte por parada respiratória. O período de incubação, a
partir da mordida até o início dos sinais clínicos, é variável podendo
ser de duas semanas a seis meses. Mas a partir do momento que sejam
vistos os sinais neurológicos, a doença é rapidamente progressiva, com a
morte acorrendo dentro de sete dias, na maioria dos animais. Mordidas
na face, cabeça e pescoço resultam em períodos de incubação mais curtos.
Esses animais (cães e
gatos) que morderam seres humanos e apresentaram sinais nervosos devem
sofrer eutanásia e seus cérebros examinados para verificar a presença do
vírus da raiva. Já cães e gatos sadios de dono conhecido, devem ser
confinados por dez dias de observação após a mordida, em busca de sinais
de raiva (para verificar se a pessoa foi exposta à raiva). Caso o
resultado dê positivo com a presença do vírus da raiva, deverá ser
iniciada a vacinação o mais rápido possível, pois não há período de
espera seguro.
Caso este cão e gato
estejam atualmente imunizados (tomaram vacina contra a raiva) e foram
mordidos por um animal comprovadamente raivoso ou mordidos por animais
silvestres numa área onde há casos de raiva, devem ser revacinados e
observados durante 90 dias. Entretanto os animais não vacinados devem
sofrer eutanásia ou se o dono não quiser, devem ficar confinados a um
estrito isolamento durante seis meses, no quinto mês este cão deve ser
vacinado, e se estiver sadio no final do sexto mês poderá voltar ao seu
dono.
Raiva rural
A raiva rural acomete
principalmente bovinos e é veiculada principalmente pelo morcego
Desmodus rotundus , que é hematófago e vive nas cavernas das pedreiras,
nas casas abandonadas, nos troncos ocos, etc. A doença traz prejuízos da
ordem de US$ 15 milhões anuais à pecuária brasileira (Revista ABCZ,
v.1,n.3, 2001). É necessário fazer a diferenciação deste morcego com as
espécies úteis ao homem. Os cães também podem transmitir a raiva aos
bovinos pela mordedura. A raiva pode ser transmitida também pela simples
deposição da saliva virulenta sobre uma ferida ou mesmo sobre uma
escarificação da pele ou da mucosa. Assim, a transmissão pode dar-se
pelos alimentos e pela água, porque o vírus penetra por qualquer lesão
do aparelho digestório.
O período de
incubação está na dependência de vários fatores: via de penetração,
inervação rica ou pobre da região da mordedura, virulência e quantidade
do vírus inoculado, etc. Nos bovinos esse período pode chegar até três
meses. Quanto aos sinais podemos distinguir dois tipos de raiva nos
bovinos: furiosa e paralítica. Os bovinos com raiva furiosa
apresentam-se agitados e agressivos, podendo investir contra o homem e
contra outros animais. Lambem e mordem, quando possível, o local da
mordedura. A salivação é abundante. Não comem, não apresentam ruminação e
o timpanismo aparece com freqüência. Em muitos casos, mugem roucamente.
Com a progressão do curso, ocorre enfraquecimento, paralisia e morte. A
raiva paralítica é a mais comum nos bovinos. Nesta, os animais
apresentam abatimento, tristeza, falta de apetite, salivação abundante
pelos cantos da boca, ranger de dentes, andar cambaleante, tremores
musculares e paralisia, principalmente dos membros posteriores. Depois
de alguns dias ocorre a morte.
O diagnóstico clínico
é feito baseado nos sinais e deve ser realizado com o máximo cuidado.
Muito necessário é o envio de material para o laboratório, pois o
diagnóstico precisa ser confirmado. A coleta de material deve ser
realizada com todo o cuidado, sendo indispensável o uso de luvas.
Deve-se colher o cérebro do animal suspeito e colocá-lo em um vidro de
boca larga contendo glicerina e enviá-lo no gelo para o laboratório.
Podem ser enviados, também em glicerina e perfeitamente refrigerados,
pedaços de fígado ou de baço e saliva. No diagnóstico diferencial deve
ser considerado o envenenamento por chumbo, formas graves de acetonemia e
botulismo. O controle e prevenção da raiva rural são feitos no combate
aos morcegos hematófagos, queimando as árvores ocas onde eles vivem e
capturando-os com redes; e ainda com a vacinação dos bovinos nas regiões
onde ocorre a raiva.
http://br.merial.com/raiva/profissionais_saude/raiva_brasil/raiva_brasil.asp
O que você pode fazer para que a raiva seja coisa do passado:
1. Vacinar os animais é o primeiro passo.
O recurso mais
importante no combate à raiva é a vacinação anual dos animais, como
cachorros, gatos, cavalos, bovinos etc. sob a orientação do médico
veterinário. Sem a vacinação, se os animais se expuserem à raiva, eles
podem pegar a doença, expondo você e outras pessoas e animais ao risco
da contaminação.
REFERÊNCIAS:
JONES, T. C.; HUNT, R. D.; KING, N. W. Patologia veterinária. 6. ed. São Paulo Manole, p.335-338, 2000.
http://www.pasteur.saude.sp.gov.br/raiva/raiva_03.htm
http://br.merial.com/raiva